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Dona Helena

Cinquenta milhões de pessoas sofrem de epilepsia

Doença neurológica gera estigmas e preconceito; estudo pioneiro, em Santa      
Catarina, poderá trazer uma nova abordagem para o manejo dessa condiçã
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Felipe Ibiapina dos Reis, coordenador do Serviço de Neurologia do Hospital Dona Helena, de Joinville (SC)

A epilepsia é uma das doenças neurológicas crônicas mais frequentes, resultante de uma disfunção cerebral, com alteração temporária e reversível do funcionamento do cérebro, que se expressa por crises epilépticas repetidas e/ou convulsões. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 50 milhões de pessoas sofrem de epilepsia em todo o mundo. São registrados 2,4 milhões de casos, anualmente. Nos países ricos, são diagnosticados entre 30 e 50 casos para cada mil habitantes. Já nas nações mais pobres, esse número pode dobrar. Ainda segundo a OMS, 80% das pessoas com epilepsia vivem em países de média e baixa renda e 75% dos doentes nessas regiões não recebem o tratamento de que precisam. Quando medicada, a maioria dos pacientes responde de forma satisfatória. Portadores de epilepsia e suas famílias, além de sofrer com o problema de saúde, acabam lidando também com estigmas, preconceito e discriminação.

A doença pode ocorrer em qualquer faixa etária e tem variadas causas. Dentre as mais comuns, estão causas genéticas, malformações de desenvolvimento cerebral, tumores cerebrais e infecções (meningites e neurocisticercose, por exemplo). Independente da causa, a epilepsia raramente ocorre sozinha, e a presença de comorbidades é a regra: mais de 50% das pessoas com epilepsia têm um ou vários problemas de saúde adicionais – condições psiquiátricas (por exemplo, depressão, transtorno de ansiedade, psicose e transtorno do espectro autista), assim como diabetes tipo 1, artrite, úlceras do trato digestivo, doença pulmonar obstrutiva crônica, demências, enxaqueca, doenças cardíacas e doenças autoimunes. 

O diagnóstico de epilepsia é complexo, e passa necessariamente pela avaliação especializada com um neurologista, além da realização de alguns exames. Somente um exame anormal, seja eletroencefalograma ou ressonância magnética de crânio, não define epilepsia, mas ajuda a caracterizar as crises e direcionar o melhor tratamento. A informação trazida pelo paciente e seus familiares é de extrema relevância para a avaliação médica e, na maioria das vezes, é mais importante que qualquer exame específico.

Os tratamentos disponíveis são variados, a depender da causa da epilepsia. Para a maioria das pessoas portadoras, os medicamentos orais são a principal modalidade de tratamento. Atualmente, há disponibilidade de mais de 25 medicamentos, sendo os atuais eficazes na maioria dos indivíduos e capazes de tornar 50% a 80% dos portadores livres de convulsões. Para os casos resistentes às medicações, devem ser considerados tratamentos alternativos, incluindo cirurgias e intervenções de neuroestimulação elétrica aplicada a nervos ou áreas cerebrais específicas para combater a geração das crises. Tratamentos dietéticos (por exemplo, dieta cetogênica) também podem melhorar o controle das crises em alguns indivíduos.

Uma perspectiva interessante é o rápido desenvolvimento de dispositivos (vestíveis ou portáteis) de detecção de convulsões, ou que utilizam métodos de monitoramento de pressão intracraniana (PIC) e da complacência intracraniana (CIC), de forma não invasiva, podendo alertar médicos, pacientes, familiares e cuidadores para o risco de convulsões que poderiam passar despercebidas. Esses dispositivos são uma nova estratégia de monitoramento em tempo real, podendo fornecer evidências médicas valiosas, com potencial de ajudar em intervenções oportunas, como ajuste ou administração de medicamentos de emergência, e na prevenção de complicações, acidentes e mortes devido crises não controladas.

Uma dessas iniciativas inovadoras, a tecnologia brain4care oferece um sensor não invasivo que, ao ser posicionado na cabeça, é capaz de captar as microexpansões do crânio a cada pulso cardíaco e detectar variações de pressão e complacência intracraniana por meio da morfologia do pulso da PIC em diversas condições neurológicas, com resultados preliminares animadores: alia praticidade, segurança e baixo custo para o monitoramento cerebral. Esses achados iniciais motivaram o início de um estudo em parceria com o Hospital Dona Helena, de Joinville (SC), por meio de seu departamento de estudo e pesquisa (IDHEP), sobre a aplicação do novo sensor em pacientes voluntários com epilepsia na região de Joinville e entorno. A ação também faz parte do escopo do InovaDona, centro de inovação do hospital inaugurado em setembro, que promove parcerias com startups, entre outras frentes. Conforme os resultados, talvez tenhamos em breve mais um instrumento para o melhor manejo dessa condição tão frequente e por vezes incapacitante, como é a epilepsia.

Diretor Técnico: Dr. Bráulio Barbosa – CRM-SC 3379