Christian Ribas, médico coordenador do Serviço de Oncologia do Hospital Dona Helena
A Bioética, no esforço de promover a melhor ação possível, do ponto de vista moral e humano, no trato com a vida, analisa criticamente os aspectos morais emergentes nas ciências médicas, biológicas e sociais, e a qualidade de vida tem também sido objeto de sua atenção.
Quando se fala em qualidade de vida, evoca-se a ideia de que é possível avaliar a vida de alguém e de que há vidas melhores e piores. Agora, duas questões fundamentais se impõem – como medir a qualidade de uma vida e quem poderá julgá-la?
Quanto à definição, o termo “qualidade de vida” pode ser entendido em diferentes perspectivas. Numa ótica pragmático-utilitarista, a vida com qualidade é definida como aquela com capacidade intelectual mínima, autoconsciência e autocontrole, capacidade de interação com os outros e racionalidade. De um ponto de vista hedonista, depende de estados mentais prazerosos e da ausência de dor. No sentido sócio-biológico, pode ser confundida com o próprio conceito amplo de saúde física, mental e social. Na esfera individual, a qualidade de vida é avaliada pelo indivíduo, considerando sua saúde física e mental, seu estado funcional e socioeconômico. Ao nível de comunidade, é aferida pelos recursos, condições, políticas e práticas que influenciam a percepção do estado de saúde e o desempenho da população.
Médicos e outros profissionais da saúde necessitam decidir quanto à condução de procedimentos e tratamentos, os quais devem ter por objetivo não só eliminar a doença, mas também restaurar, manter ou melhorar a qualidade de vida de seus pacientes. Estas decisões não são só técnico-profissionais; são também morais.
Em se tratando de qualidade de vida, no entanto, o paciente mesmo, quando capaz, num exercício de averiguação íntima de sua experiência existencial e das reais e racionais possibilidades de melhora, auxiliará na determinação do “tipo” de qualidade de vida que deseja para si. Suposições sobre a sua qualidade de vida, tomando por base apenas o diagnóstico, idade e condições de vida, sem conhecê-la através dele próprio, podem levar a equívocos decisórios em situações clínicas críticas.