Ampliar os mecanismos de acesso da população à saúde é um desafio que mobiliza hospitais e operadoras. Conforme análise da Federação Nacional de Saúde Suplementar (FenaSaúde), no pós-pandemia, haverá um aumento significativo na demanda, tanto na esfera pública quanto na privada, à medida que o cidadão não pode abrir mão de um atendimento de qualidade para manter o bem-estar pessoal e familiar. Será necessária uma resposta consistente por parte das instituições, oferecendo novas opções, especialmente para o paciente que não tem plano de saúde. É o tema desta entrevista com o diretor-geral do Hospital Dona Helena, de Joinville, José Tadeu Chechi. Entre outras ações, o Dona Helena está reativando leitos, ampliando serviços e lançando um cartão de fidelização.
Mesmo antes da pandemia, o setor de saúde privada no Brasil já vivia mudanças significativas, que vêm se intensificando do ano passado para cá. Como o Dona Helena reage a esse cenário?
Temos observado uma escalada de preços na área da saúde. Isso gerou a necessidade de o hospital rever processos internos e modelos de remuneração com as operadoras, criando uma sistemática diferenciada de negociação, baseada na eficiência. Também estamos trabalhando em revisão de protocolos, de padronização de materiais e medicamentos, modelo de remuneração dos médicos, entre outros aspectos, objetivando tornar a saúde mais acessível, sem comprometer a qualidade. O Dona Helena é um hospital com acreditação internacional, adota protocolos e rotinas rigorosas, metodologias voltadas à segurança e à qualidade assistencial. Como costumo dizer, de nada adianta termos um hospital bonito, com instalações maravilhosas, pessoas capacitadas, equipamentos de última geração, se não houver maior acesso da população a essa estrutura.
Até que ponto este ano e meio de enfrentamento da pandemia afetou a gestão hospitalar?
A pandemia trouxe mais custos para os hospitais. Tivemos que aumentar o investimento no estoque porque estavam faltando materiais e insumos no mercado – o estoque habitual, para 30 dias, foi logo esticado para 60, 90 dias, pagando mais caro, porque o preço aumentou, e alguns itens desapareceram. Felizmente, devido a esse cuidado em ampliar estoques, não tivemos problemas sérios de desabastecimento. Isso tudo em um contexto no qual diversas áreas do hospital sofreram redução dramática em seus atendimentos, a exemplo do centro cirúrgico. Durante meses, o hospital deixou de fazer procedimentos eletivos. Diante disso, desenvolvemos algumas ações. Fortalecemos nossa posição em oncologia, investimos em alta complexidade e ampliaremos o espaço físico destinado a essa especialidade – parte do térreo do centro clínico vai virar um centro oncológico. Paralelamente, ampliaremos leitos, reativando, nos próximos meses, em torno de 40 que haviam sido desativados. Também estamos em processo de autorização dos órgãos regulamentadores para transplantes de medula óssea. E, atendendo a uma carência da região, vamos implantar um ambiente apropriado para receber pacientes psiquiátricos, um diferencial. De modo geral, vamos contemplar demandas de mercado que nos ajudarão a manter a instituição saudável e operante para a população catarinense.
Isso tudo se intensificou no contexto da pandemia?
Na realidade, já adotávamos um planejamento estratégico nessa linha – que está em constante renovação, o cenário muda a cada dia. Há dois ou três anos, vimos desenhando um cenário de maior participação no mercado local de saúde, impulsionado pelo aumento da concorrência e pela necessidade de sermos mais competitivos, reduzindo custos e sendo mais eficientes. A pandemia acelerou um processo de mudanças e desencadeou ações internas que deveriam acontecer, talvez, em um espaço de tempo maior, diante do cenário de crise que se instalou no país. Isso afetou todas as áreas. Muitas ações que fizemos há quatro ou cinco anos nos deram fôlego para superar o impacto da pandemia de maneira muito mais tranquila. Um viés importante mudou: hoje, temos mais profissionais à disposição da população com uma variedade maior de especialidades no centro clínico. Isso já vem proporcionando uma fidelização de pacientes à nossa estrutura, e vai se concretizar, cada vez mais. E, claro, precisamos levar em consideração as mudanças à nossa volta. O mercado da saúde passa por grande transformação. O Dona Helena precisa criar novos produtos, mirando em um processo de fidelização cada vez maior, para que esse paciente tenha a solução do seu problema de saúde em um lugar só.
Como o Dona Helena vai trabalhar esse tema da fidelização?
Dentro da missão social de proporcionar assistência de qualidade, desenvolvemos novos mecanismos para tornar o hospital mais acessível. Uma das ações é o cartão fidelidade, que será lançado em julho. Com foco nas pessoas que não têm plano de saúde, o “Clube +Saúde Dona Helena” oferece consultas, exames e terapias com preços mais acessíveis, menores do que os da tabela particular. Um recurso para que o paciente possa fazer consulta com especialista, exame, ou terapias como psicologia e fisioterapia, por exemplo. Abre uma nova possibilidade, dando acesso aos serviços de saúde da instituição com descontos atrativos. À medida que o cartão for se solidificando, alguns ajustes poderão acontecer para acompanhar a demanda dos usuários, moldando o produto, cada vez mais, ao perfil desse público.
Como funciona o sistema?
É como em um clube: a pessoa paga um valor fixo por mês para ter acesso aos benefícios, utilizando uma tabela com valores especiais. Não entram, por exemplo, consultas de emergência. Mas uma consulta médica com especialista, sim, ou um exame de raio-x, uma ressonância, um exame de laboratório, entre outros. E, no final de um período, a pessoa vai comparar o que pagou para manter o clube e o acesso aos serviços, o que lhe deu uma vantagem e, com certeza, compensou o investimento.
O desconto é variável, dependendo do serviço?
É uma tabela diferenciada. Importante destacar que não se trata de um plano de saúde. Não é isso – é um cartão de desconto para alguns serviços. Na modalidade premium, também há serviços com outras grandes instituições em que esse cartão pode ser usado, seja de forma individual, familiar ou empresarial. Entre outros itens, acesso a seguro funerário, clínicas de saúde em especialidades que não oferecemos, e uma rede variada de benefícios adicionais. Aos poucos, poderemos agregar outros serviços levando em conta a expectativa do consumidor. Esperamos alcançar um número importante de vidas. Há uma tendência por esse tipo de modalidade, até mesmo no comércio, embora na saúde existam algumas variáveis.
Recentemente, o Dona Helena também foi parceiro de operadoras, especialmente SulAmérica e Bradesco, no lançamento de planos mais acessíveis com atendimento no próprio hospital. O contexto é o mesmo do cartão fidelidade?
Sim. São produtos que desenhamos a várias mãos, junto com as operadoras, entendendo o Dona Helena como centro hospitalar. O Dona Helena deixa de ser um hospital no modelo tradicional e passa a ser um centro hospitalar, onde o paciente vai resolver o seu problema de saúde. No hospital, o prontuário é um só, não preciso ficar repetindo exame, tudo é integrado em nosso sistema de informatização. Se o paciente fez um exame há quatro anos e o médico precisa comparar com um exame atual, o sistema oferece essa possibilidade.