Carlos José Serapião, médico, é coordenador do Instituto Dona Helena de Ensino e Pesquisa (Idhep) e idealizador do Simpósio Catarinense de Bioética; inscrições abertas para a 21ª edição do evento, que ocorre em Joinville (SC) no dia 25 de novembro
Bioética, envelhecimento e finitude da vida é o tema de abertura do 21º Simpósio Catarinense de Bioética, com palestra do ex-presidente do Conselho Federal de Mecicina (CFM) Roberto Luiz D´Ávila. Fundamental refletir sobre os muitos problemas éticos relacionados com o envelhecimento. Primeiro, sobre as questões relacionadas diretamente com a capacidade de envelhecer retendo a autonomia e a dignidade, o que não é simples frente à redução do poder de agir e até mesmo de pensar com a necessária clareza.
Ao mesmo tempo, as questões que resultam das obrigações para com os idosos, principalmente os considerados frágeis, como consequência de enfermidades que comprometem sua capacidade cognitiva associada à doença de Alzheimer e colocam em dúvida as demandas de nossa atenção e cuidado. Algumas prioridades podem ser citadas em nível mundial:
No que se refere aos aspectos demográficos, algumas reflexões podem ser úteis. Nos últimos dois séculos, em especial nos países ocidentais, a idade e a causa das mortes têm se modificado de modo dramático. A expectativa de vida quase dobrou neste período. A pirâmide populacional alterou sua forma, reduzindo a amplitude da base, como resultado de declínio na mortalidade infantil, redução nas mortes por enfermidades infecciosas, ampliação da expectativa de vida, redução nos índices de fertilidade, envelhecimento da população.
As projeções sobre esperança de vida se elevam continuamente. Já as questões relacionadas com a autonomia , tão destacadas nas sociedades ocidentais, que prezam a autonomia individual e a independência, tornam-se críticas a partir da perda das capacidades vitais e do surgimento de uma dependência de outros para a realização das atividades comuns da vida diária.
O conceito de autonomia em bioética reforça os ideais de independência e da livre escolha, o que parece pouco significativo para o indivíduo em fase de amplos impedimentos que caracterizam os cuidados prolongados.
E, porque prezamos tanto essa autonomia, como um fenômeno primário que envolve independência de ação, fala e pensamento, o idoso reluta em aceitar as dependências que tão frequentemente acompanham o processo de envelhecimento, uma vez que foram sendo incorporados a este sentido de autonomia, a capacidade de desenvolver uma gama de crenças, preferências e valores, com os quais o idoso se identifica.
O envelhecimento leva naturalmente a um exercício de autoexame e questionamentos, que coincidem com eventos especialmente marcantes, tais como a aposentadoria, a morte de amigos e colaboradores, nascimentos de netos ou bisnetos etc.
O ideal inscrito na chamada “aposentadoria ainda ativa” está identificado naquele evento como um período que oferece oportunidade para desenvolver atividades de jovens, como esportes, hobbies, lazer de toda natureza, reforçando o sentido de que o velho só é valorizado na medida em que atenda à nossa cultura de idolatria do jovem.
Pelo menos em nosso país, estereótipos da velhice comprometem a possibilidade de uma qualidade de vida melhor. Em nosso meio, velhice está associada a perda de autonomia, incapacidade, dependência, impotência, decrepitude, doença, desajuste social, baixos rendimentos, solidão, viuvez, cidadania de segunda classe, e assim por diante; idoso é chato, rabugento, implicante, triste, demente e oneroso.
Mas o que pode uma geração ensinar à outra? O que os idosos transmitem aos jovens? Memória cultural e de valores éticos fundamentais, do mesmo modo que uma educação voltada para o envelhecimento
O que os jovens ensinam aos mais velhos? Uma educação para novas tecnologias. Uma educação para novos tempos (novos valores morais)
Uma parábola, para concluir:
# O pai, mirando o horizonte no oceano: “Nada maravilhoso, este início de século”!
# O filho a seu lado: “Não te inquietes papai, eu cheguei”.